Quando se vê do mal o que se não via dantes
Se como haveis tardado, desenganos,
Vindes hoje de novo apercebidos;
A troco de vos ver tão prevenidos,
Dou-vos por bem tardados tantos anos.
Tardastes; e entretanto estes tiranos
Casos d'amor roubaram-me os sentidos;
Se alcançá-los quereis, bem que são idos,
Buscai-os pelo rastro dos meus danos.
Oh segui-os, prendei-os; porque logo
Teme que foge, quem procura, alcança,
Pois é peso o temor, o gosto é vento.
E, para quando os alcanceis, vos rogo,
Não que façais me tornem a esperança,
Mas que sequer me deixem o escarmento.
DOM FRANCISCO MANUEL DE MELO
(1608-1666)
Vindes hoje de novo apercebidos;
A troco de vos ver tão prevenidos,
Dou-vos por bem tardados tantos anos.
Tardastes; e entretanto estes tiranos
Casos d'amor roubaram-me os sentidos;
Se alcançá-los quereis, bem que são idos,
Buscai-os pelo rastro dos meus danos.
Oh segui-os, prendei-os; porque logo
Teme que foge, quem procura, alcança,
Pois é peso o temor, o gosto é vento.
E, para quando os alcanceis, vos rogo,
Não que façais me tornem a esperança,
Mas que sequer me deixem o escarmento.
DOM FRANCISCO MANUEL DE MELO
(1608-1666)