Amizades
Vesti o impermeável, fui à cozinha buscar a trela (que levava comigo apenas por precaução), e recebi as habituais manifestações de alegria. Desci a escada como sempre fazia, e ainda a noite dominava esta parte do mundo quando avançámos os dois pelo jardim e pelo rio. Para o cão era o início de dia habitual. Para mim era a última vez que o levava a passear.
Não o revejo agora porque na altura não soubesse que era a ultima vez, no sentido em que muitas vezes reflectimos sobre coisas que mais tarde acabamos por saber ser a derradeira vez que as fazemos. Revejo-o agora porque sabia nesse dia que não o voltaria a fazer. Quando voltei e coloquei a trela (que levava comigo apenas por precaução) de novo na cozinha, sabia perfeitamente que não voltaria a repetir aqueles gestos.
E assim foi, ainda hoje sem saber se um cão pensa e se sente hoje a minha falta. Eu sinto.