Quatro minutos antes
Abro o armário para tirar uma chávena, mas são longos os momentos em que o utensílio paira nas minhas mãos, parece um desfalecimento, parece que param os segundos pela recordação. Noutro tempo, sempre outro tempo.
Tenho tudo controlado, as horas, a roupa abandonada numa cadeira, os livros abandonados no chão, sei quantos e quais são, as páginas onde parei, onde, como num simples gesto de pôr chá, fugi do livro e andei por aí. Sei se faz frio lá no fundo da casa, ou se está quente e confortável a cadeira onde escrevo.
Sei isso e muitas coisas mais sobre o tabuleiro onde repousam as coisas depois de longo tempo de preparação, prontas para serem consumidas. Mas o tempo depois disso é rápido demais, fico com pena de não poder voltar a quatro minutos antes, onde aqueles gestos simples eram os meus gestos de há quatro minutos.
Gastei quatro minutos a escrever algumas linhas, destrutivas. E sempre, sempre, acabo por não poder lamentar nada, sei que foi tudo por escolhas rápidas, sem pensar muito. Assim, acordo de novo, como se dormitasse como um velho a quem os momentos são indiferentes e a memória é tudo, não sabendo que tempo passou, mesmo que saiba quanto tempo passou.
Quando amanhã percorrer de novo sem pensar os metros que me separam das coisas simples das manhãs, serão de novo as torradas e o café e o sumo de laranja, com uma só chávena e um só copo.